Abril de 2020. Aqui no Brasil ainda estávamos no começo da pandemia. Eu estava há um mês em casa, sem treinar e com projetos profissionais em stand-by. Estava me sentindo desanimada, confusa, triste, perdida. Contando assim não parece nada demais, afinal, quem nunca se sentiu assim uma vez ou outra? Só que para quem tem depressão, que é o meu caso, esse estado, se não tratado, não é passageiro. O sofrimento pode se arrastar por meses e talvez por anos, fazendo com que a pessoa perca a esperança e a vontade de viver.
Eu, que já passei por isso, conhecia aqueles sintomas. Tive medo de adoecer novamente. Vendo aquela situação, o Marco, que detestava corrida, calçou o tênis e me intimou a correr com ele. Eu estava com uma calça de moletom e uma blusa bem larga, o meu figurino multifuncional, que eu uso para dormir e para sair. E fui do jeito que estava. Fui me arrastando, bocejando a toda hora e apoiando o braço no ombro dele eu brincava dizendo “me carrega no colo?”
Depois dos primeiros dez minutos de corrida, já com o corpo aquecido e começando a suar eu senti como se estivesse despertando. Conforme eu ia liberando endorfina a sensação de bem estar aumentava e eu só agradecia a Deus por ter ido. Ao fim da corrida eu parecia outra Marcela. E assim repetimos, duas ou três vezes por semana. Tomávamos todos os cuidados, que envolviam muito álcool gel, máscaras e zero contato com outras pessoas. Mas não paramos. Chegamos a correr 14 quilômetros no auge dos nossos treinos. Eu me curei do desânimo, voltei a ter esperança e a minha vida melhorou duzentos por cento.
Estou contando essa história, porque ela ilustra bem o efeito que o esporte provoca em mim. Pouca gente sabe, mas em 2017 eu descobri que sofria de depressão e desde então eu faço tratamento para a doença. Já abordei esse assunto no meu Instagram (clica aqui para ler) e resolvi falar aqui no blog. Estamos no mês dedicado à conscientização e prevenção ao suicídio, que muitas vezes está relacionado à depressão. Esse é um assunto muito delicado e por isso eu não me sentia confortável em abordá-lo. (E ainda não me sinto.) Fora o medo de me expor. Quando a gente se abre na internet está sujeito a todo o tipo de reação.
Mas acho importante contar a minha experiência. Se eu ajudar uma pessoa que seja, já valeu a pena. Embora ainda não me sinta pronta para contar muitos detalhes dessa minha jornada, posso destacar que o esporte teve (e tem) um papel fundamental no tratamento da minha depressão. Em março de 2017, quando o psiquiatra me deu o diagnóstico e prescreveu o remédio ele me perguntou se eu conseguiria arranjar um tempinho para praticar alguma atividade física, mesmo que poucas vezes na semana. Isso iria me ajudar, ele garantiu. Alguns anos depois, muitas ondas surfadas e muitos quilômetros percorridos, podemos concluir que ele estava certo.
Eu comecei a fazer aulas de surf no Arpoador (RJ) e a cada aula, a cada onda dropada a paixão ia aumentando. A conexão com a natureza e o contato direto com a água do mar me desaceleraram. Me fizeram repensar o que eu realmente queria para a minha vida. Uma grande, lenta e contínua mudança começava. Eu comecei a cuidar mais da minha saúde, algo que eu sempre deixava em segundo plano.
Desde que eu descobri o poder terapêutico do esporte eu nunca mais parei de me mexer. Eu fiz um pacto comigo mesma que é o seguinte: pelo menos duas vezes por semana eu vou praticar alguma coisa, seja um treino funcional, seja um rolê de skate. E não é que eu tenho conseguido? O esporte é um dos meus remédios. É um “vício bom”, ou seja, não consigo ficar sem e o melhor é que não faz mal, só bem! Eu inclusive falo brevemente disso no documentário de snowboard “Quebrando o Gelo”, cuja data de estreia prometo divulgar mais pra frente aqui.
Pretendo trazer esse assunto outras vezes ao blog, pois quero contribuir no combate à desinformação e ao preconceito acerca da depressão. Espero que a minha história possa inspirar e ajudar outras pessoas que estão sofrendo com essa doença. Desejo mostrá-las que junto com o acompanhamento médico e de um terapeuta o esporte é um poderoso aliado da vida!
2 respostas para “Setembro amarelo: como o esporte me ajudou a superar a depressão”
Maravilhoso texto Cela! Eu sempre tive vontade de surfar, mas resolvi me jogar de verdade no surf qnd passava por um periodo complicado da minha vida! Realmente ajudou e realmente ainda ajuda muito! Sempre deixo as ondas levarem todas energias ruins e saio recarregada de good vibes! O esporte, não só o surf, tem mesmo esse poder fantástico de nos renovar o ânimo!
Que demais o seu depoimento Bel! Foi essa vibe maravilhosa que me conquistou no surf! Boas ondas!