Quando resolvi escrever sobre esse assunto aqui no blog pensei imediatamente na minha amiga, que é um exemplo fitness para mim: a Maria Fernanda Neves, cardiologista com especialização em nutrologia e defensora dos hábitos saudáveis. Me lembro que na adolescência a Nanda era uma das poucas que já fazia musculação. A título de curiosidade, apesar de sempre ter praticado esportes, eu só fui pisar numa academia e levantar peso com 20 e poucos anos. Ainda bem que de uns anos pra cá eu entendi a importância de fazer dos treinos uma rotina. Minha saúde agradece!
Com a pandemia, tenho certeza que muitas pessoas começaram a
repensar seus hábitos e a se preocupar mais com a saúde. E não estou falando
apenas daqueles que estão no grupo de risco não. Eu mesma, 31 anos, cem por
cento saudável, me pergunto: o que aconteceria comigo se eu pegasse a doença?
Será que já peguei e nem sei? Eu não fiz o teste, então, vai que, né?
Com tantas dúvidas na cabeça e com mais de 300 mil mortes por causa do coronavírus no mundo (até agora) eu tenho feito a minha parte para ficar bem longe dessa doença e não ser responsável pela propagação dela. Estou em isolamento social desde o fim de março e cumprindo as recomendações das autoridades de saúde. Além disso, aqui em casa estou cuidando da minha saúde com uma alimentação equilibrada e exercícios físicos.
Ainda não descobriram uma vacina ou remédio comprovadamente eficaz na cura da Covid-19. Então, o que podemos fazer para nos manter protegidos, além do isolamento social, do uso de máscaras, da higienização correta das mãos, etc e tal, é fortalecer o nosso sistema imunológico. Falando especificamente da imunidade, será que praticar exercício ajuda? Bom, não sou eu quem vai responder isso e sim uma pessoa devidamente credenciada. Com a palavra, Dra Maria Fernanda Neves.
DE QUE FORMA A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS AJUDA NO FORTALECIMENTO DO NOSSO SISTEMA IMUNOLÓGICO?
Durante a prática da atividade física, ocorrem diversas alterações metabólicas, endócrinas, musculares e imunes. Isso ocorre pois o estresse do exercício, desencadeia no nosso organismo uma complexa cascata de sinalização com ativação de células e liberação de citocinas – envolvidas com a resposta imune.
SE PRATICADA COM UMA INTENSIDADE MUITO ALTA, A ATIVIDADE FÍSICA PODE AFETAR A NOSSA IMUNIDADE, CAUSANDO UMA REDUÇÃO DELA?
Quando entendemos que o funcionamento do nosso corpo não é um algoritmo pronto que funciona igual para todo mundo, percebemos que intensidades diferentes podem gerar repercussões diferentes no nosso organismo. A prática em intensidades leve a moderada, direcionam nossa resposta para que haja predomínio da ativação de células conhecidas como natural Killer, que estão relacionadas de certa forma, à destruição de células tumorais e infectadas.
Por outro lado, segundo a Sociedade Internacional do Exercício e Imunologia (ISEI),quando praticamos em intensidade muito alta, por períodos acima de 1,5h levamos a disfunção do sistema imune. Isto se deve devido à produção de citocinas(pró inflamatórias) que pioram lesão muscular e levam à desordens endócrinas com aumento do hormônio do estresse, o cortisol. Acredita-se que as alterações persistam por 3-72h após o término da atividade física. Com isso ratificamos a importância do descanso entre os treinos para evitar o famoso “overtraining”, que repercutiria exatamente no extremo oposto do desjeado, com piora no sistema imune.
COMO SABEMOS SE ESTAMOS PRATICANDO NA INTENSIDADE CORRETA?
A correta definição da intensidade é baseada no estabelecimento das zonas de treino ou zonas de intensidade. Estas, por sua vez, são individuais e variam de acordo com idade e percentuais da frequência cardíaca.
Para serem calculadas de forma precisa, é necessário a realização de um exame chamado Ergoespirometria. Ele, através da medicação de gases exalados, é capaz de determinar mudanças no padrão de utilização das fontes de energia ( glicose ou gordura) e, com isso, definir os limiares de treinamento com suas respectivas zonas de treinamento.
De uma forma mais simplista, poderíamos utilizar a escala de Borg. Esta trata-se de uma avaliação subjetiva de cansaço, numa escala de 0-10, sendo 10 o esforço máximo. Graus leves a moderados geram cansaço variam entre 4-7.
Mas para que haja uma adequada prescrição, é necessária avaliação médica.
PESSOAS COM O SISTEMA IMUNOLÓGICO MAIS FORTALECIDO ESTÃO SUJEITAS A SE CONTAMINAREM DA MESMA FORMA? EM CASO DE CONTÁGIO, OS SINTOMAS SERIAM MAIS FRACOS? AS CHANCES DE A PESSOA REAGIR MELHOR AO TRATAMENTO SÃO MAIORES?
Muito tem se falado sobre como ficar imune ao vírus. Porém não existe a pílula da imunidade e muito menos formulações mágicas. O fortalecimento do sistema imunológico através de práticas regulares de atividade física, alimentação, redução de estresse, e controle das doenças a longo prazo, permitem que o organismo esteja menos susceptível à infecções como um todo. Entende-se que um organismo mais forte estará mais apto à responder de forma mais rápida e intensa aos quadros de infecção, porém não é regra. Principalmente em se tratando do SARS-cov2, o vírus que causa a COVID19, não temos dados de literatura para sustentar algum posicionamento.
QUANDO A GENTE PRATICA EXERCÍCIO FÍSICO, OCORRE A LIBERAÇÃO DE HORMÔNIOS QUE DÃO A SENSAÇÃO DE BEM ESTAR E RELAXAMENTO. EXISTE ALGUMA RELAÇÃO ENTRE ESSA DIMINUIÇÃO DO STRESS E O SISTEMA IMUNOLÓGICO?
A endorfina, liberada durante a atividade física, é o hormônio que gera sensação de recompensa e bem-estar no organismo. Ela está associada a relaxamento, alívio e contentamento generalizados. Quando liberada, ela aumenta a disposição física e mental do indivíduo, a performance além de melhorar a resistência imunológica.
Ao contrário, o cortisol, hormônio conhecido como hormônio do estresse, é liberado em situações tanto de estresse físico ou mental. Dentre suas inúmeras funções para preparar o organismo para o combate, ele diminui as reações imunológicas ao provocar diminuição no número de leucócitos (células de defesa envolvidas com resposta a infecções).
Portanto, existe sim uma forte relação entre estresse e redução do sistema imune, justificando por que muitas pessoas desenvolvem doenças, dores de cabeça, piora de doenças de pele, gastrite e inúmeras complicações quando submetidas à estresse crônico. Daí a importância da atividade física moderada, no intuito de equilibrar a balança com aumento de endorfinas e redução do cortisol.
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