O aprendizado do surf tem várias etapas. Normalmente é assim: primeiro você a aprende a ficar em pé na prancha, com um empurrãozinho de um professor. Nesse estágio é comum a gente ficar completamente focado em dropar logo, não vacar, em sair bonito na foto do Surfmappers e muitas vezes sequer olha para a onda. Eu fiz muito isso.
Por esse motivo eu peguei umas bombas quando era iniciante, que hoje, olhando as fotos daquela época eu me pergunto como tive coragem? A resposta está em algum lugar entre a ignorância e a confiança. Sei que a palavra ignorância pode parecer pesada, mas o que eu quero dizer é uma falta de conhecimento, de noção de onde está se enfiando. E isso é fantástico!
Iniciantes, aproveitem essa fase. Pois quando você começar a pegar ondas sozinho e tomar muitas vacas vai sentir saudades do seu professor te empurrando em ondas enormes. Que fique claro que o meu enorme é um metro e meio, no máximo dois. Rs
E quando eu falo da confiança é a confiança que o iniciante tem no professor. A gente confia que VAI dropar, porque ele escolheu nossa onda e ele nos empurrou. Eu fiz tantas aulas, com tantos professores, que meio que viciei nessa ajuda. Existe certo ou errado no aprendizado? Não! Existe o tempo de cada um.
Eu fiquei tão “viciada” nesse empurrãozinho e nessa “cegueira” intencional para o tamanho da onda, que custei muito a criar confiança em mim mesma. Vou repetir, só para reforçar. Não acho que eu errei. Esse é o meu processo, a minha história e é porque eu vivi tudo isso que posso hoje contar para vocês.
Mas afinal, onde eu quero chegar com isso? Bom, eu quero dizer a vocês é que eu cheguei ao estágio de olhar o tempo todo para a onda. Por muito tempo o lance de olhar para a areia me ajudou a não cair. Isso porque o nosso corpo vai para onde os nossos olhos estão voltados. Tem algo filosófico nisso, já parou para pensar? Olhe, mentalize, visualize e então você caminha, ou surfa naquela direção.
"Nunca olhe para baixo, sempre para frente!” Essa dica valeu demais e eu repasso a todas as amigas que estão iniciando no surf. Mas para dar uma batida, manobra que aliás estou focada em aprender esse ano, eu preciso olhar para a onda. Se eu ficar olhando para frente o tempo todo a única manobra em que eu vou me especializar é o “retoside”.
Ah, esqueci de falar. Outro motivo que me fazia olhar só para a frente era o medo da onda. Às vezes que olhei, quando estava bem no comecinho do meu aprendizado, ou eu achei grande demais ou eu achei em pé demais... enfim, sempre que eu olhava eu achava um motivo para puxar o bico.
Sabe por quê? Por que a minha confiança estava toda depositada numa outra pessoa e não em mim. Foi um processo muito lento e eu ainda estou nele na real. Hoje, no Guarujá ela falou comigo! Putz, não te contei? Eu sou tão maluca que converso com a onda às vezes. Na verdade é ela que fala comigo. Outro dia, ela disse: “Vem, vem, vem comigo, confia em mim!” e foi mágico! Eu subia e descia na parede. Não sei nem descrever como eu me senti. Só sei que foi lindo.
Mas voltemos a hoje. Hoje a onda ficou chateada, porque eu não estava olhando para ela. Ela mandou um “me encara de frente!” e que eu podia fazer? Tive que olhar, né? E foi assim que eu avancei mais um pouquinho nessa minha jornada. Eu olhei para a onda umas vinte vezes? Ok, deve ter sido umas cinquenta. Mas sabe o que aconteceu? Eu dropei duas! E sabe o que isso quer dizer? Para muitos, que sou uma prega e não sei surfar. Para mim, que eu estou evoluindo. E cara, eu só sei que estou amando.