Um dos motivos pelo qual eu amo tanto o surf é que ele me possibilitou melhorar a minha paciência. Eu sou uma alma ansiosa e inquieta por natureza e aprendi na terapia que, embora a gente não possa mudar a nossa personalidade, a gente pode lapidar, trabalhar, desenvolver e melhorar.
O mar me ensina que as coisas não acontecem no tempo que a gente quer, mas no tempo que devem acontecer. A menos que você esteja na piscina do Kelly Slater, você não tem controle sobre o que a natureza vai te mandar naquele momento. A vida não é uma máquina de ondas.
É preciso respeitar o tempo das coisas. Quando a gente entende isso a nossa ansiedade diminui. E por respeitar eu não quero dizer se acomodar ou ficar parado. Por respeitar eu quero dizer: não ter pressa para não se frustrar.
Vou dar um exemplo. Nas redes sociais, muitas vezes nos comparamos com uma ou outra pessoa. Se ele ou ela conseguiu, eu também vou conseguir pra ontem! Ei, PARA. Está errado isso. Você está ansiosa (o) porque está vendo um pequeno recorte da vida da pessoa.
Você não tem como saber do esforço que aquela pessoa fez para estar ali. Não sabe das madrugadas em que ela trocou a cama quentinha pela água gelada do mar. Isso para dizer o mínimo, porque engana-se quem pensa que a vida de um surfista é só aquele feed azulzinho. Ah, se a minha vida se resumisse àquela foto ali em cima...
PRECISAMOS NOS CURAR
Desde o ano passado o mundo enfrenta uma pandemia sem precedentes na história. Mas bem antes disso, eu diria que de uns 10 anos pra cá, estamos lidando com uma outra “doença”, que vou chamar de a síndrome do black mirror, ou espelho preto, em português.
Você sabe do que eu estou falando. Você está olhando para um desses “black mirrors” agora. Pode ser o seu computador ou o seu celular. Fato é que, a cada dia que passa, estamos mais presos a essas telas. Quem sou eu na fila do pão para dizer que isso é ruim, mas se você fizer uma breve busca, vai encontrar uma porção de pesquisas alertando sobre os efeitos nocivos do uso excessivo das telas à nossa saúde mental e física. Sedentarismo e a tal da ansiedade, são algumas delas.
A hora que eu vou surfar é um daqueles poucos momentos em que eu me encontro desconectada das telas e totalmente ligada à natureza. E só isso já faz do surf uma terapia. É na água salgada que eu limpo a minha alma e encontro o combustível para continuar vivendo com coragem, força e com uma boa dose de paciência.